Fé e tradição na folia do Divino Espírito Santo


“Salve o divino Espírito Santo. Salve o divino Espírito Santo!” Este foi o canto ecoado pelos foliões na chegada à casa do imperador em Porangatu, no norte de Goiás. Os foliões giraram com a bandeira do Divino por 5 dias, fazendas, sítios e residências de Bonópolis, Santa Tereza e Porangatu. Por onde passaram demonstraram fé e gratidão às bênçãos recebidas.


“Eu nem iria participar desta folia do Moreira cheguei aqui com uma dor na perna e pedi ao Espírito Santo que aliviasse a minha dor e ela desapareceu. Deu até para dançar um chorado”, sorridente disse o folião José de Barros Garção.

Zé Garção começou a participar dos giros de folia na região de Porangatu ainda criança. Hoje além de ser imperador, também é o embaixador desta tradição milenar. “É um orgulho, pois nem todo mundo sabe cantar e em cada pouso é uma história. Tem muito verso que é improvisado na hora, então eu só tenho que agradecer esse dom que Deus me deu”, complementou.

O símbolo da Festa do Divino é a mandala de fogo com a pomba branca ao centro. A pomba significa o próprio Divino Espírito Santo (Mt. 3.16) e a mandala de fogo o momento que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos, a Pentecostes (AT 2, 4.6). A cor da festa é a branca e a vermelha, a branca significa a paz, o altíssimo e a pomba que pousou sobre Jesus e a vermelha o sangue de Jesus, o Espírito Santo, as labaredas de fogo.

Para não fugir a tradição, a 17ª folia do Moreira foi bem caracterizada. A casa estava repleta de balões, bandeirolas nas cores: branca e vermelha. Inclusive o altar e a mesa de refeições. Cerca de 200 pessoas prestigiaram a chegada da bandeira. Além de comida farta para alimentar o corpo, os fiéis também tiveram a oportunidade de alimentar a alma, durante as cantorias e a reza do bendito.

Segundo o imperador da folia Raimundo Moreira de Araújo a sensação é que à medida que os anos vão passando, a fé vai se fortalecendo. “Ser devoto ao Divino Espírito Santo é o mesmo que ser devoto a Deus. Pois sou católico desde criança, então para mim também é um orgulho muito grande ser responsável por toda essa festa”.

O imperador disse ainda que se preocupa com o futuro deste folclore tão importante para a nossa sociedade, principalmente, pela falta de adesão dos jovens. Este ano, Raimundo Moreira teve que ir atrás de foliões de Talismã e de Alvorada no Tocantins e também em São Miguel do Araguaia para manter a tradição do giro da folia. “Antigamente, tinha muito mais jovens na folia. É por isso que tinha muito mais foliões. Hoje não, os jovens querem mais é ir para as baladas”, complementou.

Na opinião da aposentada Ilta Dias Rodrigues a tradição da folia do Divino Espírito Santo um dia vai acabar. O que para ela é uma pena, pois foi criada acompanhando os giros da folia. E, mesmo hoje com 68 anos sempre que fica sabendo de uma folia faz questão de prestigiar. “Eu acho bonita a chegada dos foliões, o bendito, a saída da folia de uma casa. Para mim a folia é toda bonita”.

Dona Ilta Rodrigues disse ainda que já foi agraciada pelo divino Espírito Santo: “eu tenho uma filha, que só vivia doente. Aí eu fiz uma promessa para o divino e graças a Deus ela sarou e nunca mais teve problema”. Com o olhar cheio de lágrimas, a aposentada explica que o mais importante é ter fé.

História

A festividade do Divino Espírito Santo tem origem na Alemanha durante a dinastia dos Othons e destinava-se a criar uma instituição, que, na forma de um banco, formado de esmolas, acudisse os pobres nos anos de penúria. E como os invocantes eram reis os festejos conservaram os aspectos de realeza.

Na França, a festa foi difundida. A folia do Divino, assimilada rapidamente, foi chamada “Folias do Bispo Inocente”, realizada anualmente em São Martinho, de Tours.

Em Portugal, no século XIII, a devoção ao Divino Espírito Santo transforma em festa pela Rainha Dona Isabel de Aragão, esposa do Rei Dom Diniz, grande protetora dos humildes e da religião católica apostólica romana.

A introdução da festa do Divino Espírito Santo, no Brasil Foi introduzida na Bahia em 1765 pelos ilhéus portugueses, na Matriz de Santo Antônio do Além do Carmo. Havia grandes folias, repastos em público e soltavam-se os presos.

Os festejos começam após a quaresma com a saída da bandeira do Divino. Trata-se de uma bandeira de pano vermelho, no qual está bordada uma pombinha branca, sustentada por um mastro de dois metros aproximadamente em cuja ponta figura outra pombinha branca, ornada de flores. Da ponta caem fitas coloridas, geralmente doadas como pagamento de promessas.

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